Perícia médica concluiu que Francisco Lopes de Albuquerque, acusado de estuprar e matar a enteada, Júlia dos Anjos Brandão, em abril deste ano, estava em pleno uso de suas faculdades mentais quando cometeu os crimes. O laudo, que foi incorporado ao processo na última quinta-feira (8), derruba a tese apresentada pela defesa, de que o réu teria sofrido um surto psicótico e, em razão disso, atacado a menina.
De acordo com o laudo, Francisco Lopes demonstrou atitude calma e colaborativa durante o teste. Ele estava lúcido, orientado e com memória conservada. O documento também relata uma mudança na versão do réu sobre o caso. Francisco Lopes havia confessado o crime à Polícia Civil. Durante a avaliação psiquiátrica, no entanto, ele disse que teve sonhos de caráter sexual com a enteada, mas nunca praticou nenhum ato libidinoso contra ela. Francisco Lopes falou, ainda, que, apesar de tais sonhos, não se distanciou de Júlia dos Anjos, “por acreditar que nunca faria mal à menina”.
Os relatos do réu não convenceram a perícia. Conforme o laudo, Francisco Lopes de Albuquerque não possui doenças mentais, nem sofria de perturbação de saúde mental na época dos fatos. A perícia constatou também que o réu era completamente capaz de entender o caráter ilícito do atentado contra Júlia. Confira o laudo na íntegra.
“O periciado não é agressivo. Entretanto, é possível que tenha traços de personalidade antissocial. Assim sendo, há possibilidade de reiteração criminosa”, acrescenta o documento.
O pedido pelo exame foi realizado em agosto, mas Francisco só se submeteu ao teste no dia 16 de novembro. Na época, a acusação apontou que a instauração do incidente de insanidade era uma estratégia de defesa para protelar o julgamento. Familiares da adolescente apontam que Francisco Lopes dava sinais de interesse na enteada e teria premeditado tanto os abusos quanto o assassinato da menina. A defesa do réu nega ter tido intenção de atrasar o rito processual.
Com a incorporação do diagnóstico negativo para insanidade mental ao processo, a Justiça deve marcar a primeira audiência do caso. Ainda não existe data provável para a audiência, mas, devido ao recesso judiciário, ela só deve ocorrer em 2023.
Júlia dos Anjos Brandão, de 12 anos, desapareceu de um condomínio residencial no bairro de Gramame, em João Pessoa, no dia 7 de abril. Segundo familiares, Júlia tinha saído de casa somente com o celular. Os parentes da adolescente acreditavam que ela havia sido raptada ou induzida a sair de casa por algum estranho.
A primeira linha de investigação apontava para uma pessoa no Instagram. O perfil em questão se apresentou à adolescente pela rede social e ofereceu serviço de marketing digital. A mensagem da suposta consultora prometia um aulão gratuito a Júlia e dizia que a adolescente poderia ganhar dinheiro com a internet. Mas não demorou muito até que o delegado Rodolfo Santa Cruz descartasse a suspeita, pois a pessoa foi localizada, tinha endereço e contatos ativos e estava em outro estado.
A última pessoa a ver a adolescente em casa tinha sido o padrasto, Francisco Lopes de Albuquerque. Nos primeiros depoimentos à Polícia Civil, ele informou às autoridades que, a pedido da esposa, Josélia Araújo, foi até o quarto de Júlia por volta das 6h40 do dia 7 de abril para verificar se ela já havia levantado. Segundo a versão inicial do padrasto, a adolescente dormia e Francisco teria saído para trabalhar logo em seguida. A mãe de Júlia se levantou por volta das 9h e percebeu que a menina não estava em casa.
Desde então, parentes se mobilizaram nas buscas por Júlia. O pai dela, Jeferson Brandão, que mora no Paraná, veio a João Pessoa com a atual companheira e uma tia da adolescente. A mãe dela, que na época estava grávida de dois meses, também participou da procura por Júlia. Os familiares da menina percorreram diversos bairros e áreas de mata na Capital.
O desfecho trágico da história aconteceu no dia 12 de abril, com a confissão do padrasto. De acordo com o delegado Hector Azevedo, responsável pelas investigações, Francisco Lopes alegou que Júlia não aceitava a gravidez da mãe e temia que a adolescente fizesse algum mal contra o bebê. A confissão do padrasto ocorreu após a Polícia Civil confronta-lo sobre divergências entre o depoimento dele e outras oitivas e apurações. O corpo de Júlia foi encontrado em um poço na Praia do Sol, local indicado pelo suspeito.
Francisco Lopes teve a prisão mantida após audiência de custódia. Durante a sessão, ele teria confessado abuso sexual contra a enteada, informação que não havia sido apresentada no depoimento à Polícia Civil. As autoridades, então, pediram um novo interrogatório e, desta vez, o homem confessou que abusou da menina durante os quatro meses que antecederam o crime.