João Pessoa 438 anos: erosão na barreira do Cabo Branco é problema histórico ainda sem solução

Pesquisadores entendem que a urbanização das construções sobre a orla é o principal motivo para a aceleração da erosão da barreira de Cabo Branco

Barreira do Cabo Branco
Barreira do Cabo Branco (Foto: Divulgação/Secom-JP)

A erosão da barreira da praia de Cabo Branco é um problema que parece não ter solução, em João Pessoa. Entra ano e sai ano, a preocupação se confunde à expectativa de um desgaste que degenera cada vez mais a falésia a cada avanço do mar, na capital da Paraíba.

Recentemente, o debate ganhou novos contornos após a proposta de alargamento da faixa de areia em algumas praias da orla, mas que foi suspensa pela prefeitura municipal. No entanto, o processo de erosão segue intenso, transformando a paisagem daquele espaço e provocando preocupação da população.

Alguns registros do século passado, ainda na década de 20, apontam que esse fenômeno sempre foi presente na falésia. O professor Saulo Vital, do Departamento de Geociência da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), apontou que a grande preocupação, em meio às problemáticas que envolvem essa temática, acontece por conta de obras mal dimensionadas na região.

“Tudo isso aumenta o processo erosivo. Se não houvesse nenhuma construção por ali, a erosão estaria acontecendo, mas ninguém estaria se importando, porque não estaria atingindo o equipamento público. Como existe o Farol do Cabo Branco, a Estação Ciência e outros equipamentos públicos, a erosão chama a atenção. E essa ocupação acelera o processo. O asfalto e o concreto aumentam a energia das águas na barreira, causando mais erosão”, explicou.

O jornal Correio da Paraíba, que foi o primeiro produto do Sistema Correio de Comunicaçãoque completa 70 anos de serviço ao povo paraibano no dia 5 de agosto —, sempre acompanhou de perto os assuntos que se assemelhavam à essa temática. Um dos exemplos fica por conta de um exemplar publicado no dia 19 de outubro de 1953, quando o Governo da Paraíba autorizou que fosse construída uma barragem sobre o Rio Sanhauá. Àquela época, a construção do canal colocaria em risco o panorama social de toda a área dos mangues.

Jornal Correio da Paraíba
Foto: Arquivo Correio da Paraíba

Projeto de monitoramento está em curso

A UFPB trabalha, desde 2017, com um projeto que pretende calcular a taxa de erosão e também para monitorar a área. Para isso, eles usam o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), por onde conseguem entender os avanços do mar e os impactos causados a curto, médio e longo prazo.

Através desses estudos, os pesquisadores entendem que a urbanização das construções sobre a orla é o principal motivo para a aceleração da erosão. Existem os fatos climáticos que influenciam, mas que não são fatores determinantes. A ocupação da orla marítima, das faixas de praias, onde deveria haver vegetação, é o que gera cada vez mais desgaste.

“Os gestores têm que levar em consideração que a proteção da faixa de areia e da restinga é primordial para manter a urbanização. Se você avançar cada vez mais com essa malha urbana, você vai ter que ficar brigando com o mar, criando obras que vão jogar o problema para outros locais”, explicou.

Barreira
Barreira do Cabo Branco sofre com erosão (Foto: Assuero Lima/Jornal CORREIO)

Educação ambiental é fundamental

A educação ambiental segue sendo o principal recurso para que a sociedade e toda sua coletividade possam construir valores em prol da conservação do meio ambiente.

Apesar dos avanços, a área litorânea de João Pessoa ainda oferece riscos de impactos ambientais, tais como lixo na praia, intervenções particulares sem licenciamento e também uso inadequado do espaço público.

Saulo Vital reforçou a necessidade de a educação ambiental ser aplicada em sala de aula com ainda mais notoriedade e teceu críticas à diminuição da carga horária, que ocorreu através da reforma do Ensino Médio, na gestão do governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

“É primordial uma educação ambiental, que deve vir das escolas. Na última gestão federal houve a reforma do Ensino Médio, que diminuiu a carga horária de Geografia e de outras áreas dedicadas ao meio ambiente. E isso foi um grande atraso. Ao invés de expandir o currículo para temáticas multidisciplinares voltadas à questão ambiental, acabou diminuindo essa carga horária e piorando o conhecimento dos futuros cidadãos que estão na escola acerca da necessidade de proteger o meio ambiente”, concluiu.

Com o passar dos anos, a erosão da barreira do Cabo Branco passou a ser pauta debatida em muitos centros da cidade. É o choque entre a propensão de um desgaste que seja ainda maior e a preocupação em cuidar melhor de um espaço que remete à identidade da cidade. A certeza cada vez mais absoluta é que um dos pontos que recebem e saúdam o sol primeiro, nas Américas, precisa de mais atenção e zelo.

VÍDEO: Assista abaixo um resumo desta reportagem

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