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Novas tecnologias são a ‘arma’ para o eleitor analfabeto

A Paraíba tem quase 700 mil eleitores analfabetos e analfabetos funcionais, como mostram os dados estatísticos do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). De acordo com os números, 679.923 pessoas não possuem nenhum nível de instrução ou só sabem ler e escrever. Mas, ao contrário do que muitos podem pensar, a falta de estudo não impede esses eleitores de terem a capacidade de analisar o contexto político. E as novas tecnologias podem ser a grande ‘arma’ para quem vive dentro dessa realidade educacional.

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É o que garantem alguns especialistas ouvidos pelo Portal Correio. Eles afirmam que essa condição não é um empecilho para que o cidadão busque conhecer o candidato e sua ficha política e elencam algumas alternativas que podem manter o eleitor bem informado e com capacidade suficiente para entender o contexto apresentado pelos candidatos e, enfim, tomar uma decisão acertada na hora de votar. Exemplo dessas soluções é acompanhar os debates eleitorais.

O professor doutor em Ciência Política da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), Clóvis Alberto Vieira de Melo, explica bem a situação. “Diferentemente do que muitos acham, os indivíduos analfabetos não são embrutecidos ou desprovidos da capacidade de analisar o contexto em sua volta, inclusive, o político. Eles apenas não detêm uma ferramenta essencial para se informar, o que não deixa de ser um problema relevante que a sociedade tem que enfrentar mais cedo ou mais tarde,” coloca.

Para ele, o “sistema político brasileiro torna alto o custo da escolha do eleitor” e o número de eleitores analfabetos e analfabetos funcionais na Paraíba é uma expressão do que ocorre na sociedade. Apesar da queda registrada, isso não é necessariamente um empecilho intransponível para que o eleitor com esse perfil não obtenha informações sobre política.

“O eleitor médio, mesmos os alfabetizados, lê pouco sobre a política e o processo eleitoral em particular. No entanto, a eleição de John Kennedy nos EUA em 1960 inaugurou um novo formato de comunicação dos políticos em relação aos eleitores, que inovou de forma espetacular essa relação. Foram os debates entre os candidatos ao vivo na TV. Sabendo ler ou não ler, os eleitores passaram a acompanhar o processo eleitoral”, destacou.

O doutor Clóvis Alberto lembra que o acesso a essas  plataformas facilita a escolha. “Atualmente, alguns candidatos têm sido sabatinados por canais de TV, inclusive, com transmissão aberta. Os candidatos têm buscado se comunicar fortemente com os eleitores por mídias sociais. Os analfabetos acessam, quer seja clicando em áudios ou vídeos. Para tanto, basta o eleitor ter a atitude em buscar informações, seja ele alfabetizado ou analfabeto”, destacou.

Menos ideologia, mais pragmatismo

Ao Portal Correio o também cientista político José Henrique Artigas, doutor em Ciência Política pela Universidade de São Paulo, relatou como se dá a realidade dessas pessoas no sistema atual de eleitorado brasileiro. Segundo ele, o voto pode se dar, nesse caso, como uma escolha “tendencialmente mais pragmática e menos ideológica”.

“Se nós observarmos nas pesquisas desenvolvidas desde 2006 os votos atribuídos a Dilma, para a esquerda, vieram dessas classes com menor escolarização, menos desenvolvidas, mais periféricas, de cidades menos industrializadas, dos menores municípios”, esclarece.

Ele também destaca que, atualmente, todos, inclusive os mais pobres, têm mecanismos de acesso à informação, como Smartphone, por exemplo. Para o cientista, o que deve ser buscado é a transformação da informação em conhecimento, de forma que se tenha um filtro. Ainda de acordo com o especialista, os políticos que promovem políticas redistributivas para esse público certamente serão mais suscetíveis.

“O pobre não quer saber de taxa de juros, ele quer saber de dinheiro no bolso. Se o candidato souber equilibrar questões como essas, ele tem uma grande tendência a ganhar a maioria de votos dessa população. Da mesma forma, é preciso que tanto os candidatos como eleitores se envolvam em esclarecimentos. Quem tem fome, quem tem pobreza, pensa primeiramente na garantia dos seus próprios interesses, mas isso não quer dizer que essas pessoas não têm racionalidade, muito pelo contrário, ele vota com clareza e princípios pragmáticos”, finaliza.

Os números. De maneira geral, os números apontam uma queda de analfabetos em 32,10% no país, a Paraíba, por sua vez, registra 41,08% de diminuição desde 2006. Ainda conforme os dados, 219.455 eleitores paraibanos são analfabetos, o que corresponde a 7,65%, enquanto 460.468 eleitores (16,06%) só leem e escrevem, mas não compreendem.

O levantamento também revela que 707.319 (24,67%) têm ensino fundamental incompleto; 606.333 (21,14%), ensino médio completo; 339.401 (11,84%), ensino médio incompleto. Enquanto que 246.393 (8,59%) eleitores possuem curso superior completo; 151.653 (5,29%) têm superior incompleto e 136.626 (4,76%), ensino fundamental completo.

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