“É uma sensação muito ruim, de angustia, de impunidade. A gente confia na segurança, mas a própria segurança tirou a vida do meu filho”. A fala, concedida em entrevista ao programa Correio Debate, da Rede Correio Sat, é do pai de Fausto Targino de Moura Júnior, de 25 anos, assassinado pelo policial militar soldado Vieira, na noite dessa quarta-feira (12), em frente a uma pizzaria no bairro Jardim Oceania, Zona Leste de João Pessoa.
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Na entrevista, o pai de Fausto confirmou o relato de que o filho passou o dia trabalhando e que saiu do serviço para participar de uma confraternização com amigos quando houve o crime.
“O meu filho era um jovem muito bem relacionado com todo mundo e estava trabalhando há muito tempo. Ele saiu do trabalho e foi pra essa pizzaria para comemorar a festinha de Natal. Ele foi na frente com um amigo e ficou esperando o resto da turma. Não sei o que deu na cabeça desse segurança que ele se aproximou do carro e atirou nas costas do meu menino”, contou o pai da vítima.
Ainda durante a entrevista, o pai de Fausto contou que espera por justiça e criticou a ação do soldado. “Meu filho não vai vir de volta e ele vai estar trabalhando. Vamos ver o que vai acontecer. Se o tiro fosse de frente ele poderia alegar que meu menino tinha tido alguma reação, mas o tiro foi por trás”, disse.
Fausto Targino de Moura Júnior chegou à pizzaria em uma motocicleta, acompanhado por um colega, ao mesmo tempo em que outros conhecidos chegavam em um carro conduzido por motorista de aplicativo. Após estacionar a moto, Fausto e o colega caminharam em direção ao grupo que estava no automóvel. Neste momento, um suposto vigilante da pizzaria – que depois revelou-se ser o PM investigado – abriu fogo.
Os tiros atingiram Fausto e o motorista de aplicativo. Os dois foram socorridos para o Hospital de Emergência e Trauma Senador Humberto Lucena. Fausto Targino de Moura Júnior morreu horas depois. Já o outro baleado, um jovem de 22 anos, seguia internado até a manhã desta quinta-feira (13). Conforme boletim médico, o estado dele é grave.
A defesa do soldado Vieira negou que o policial estivesse prestando serviço de segurança na pizzaria no momento do crime. O policial já se apresentou à Polícia Civil para prestar esclarecimentos e foi liberado.
O advogado alegou que antes de atirar nas vítimas, o soldado teria dado voz de prisão às pessoas a quem considerou suspeitas. A defesa lamentou a perda de uma vida inocente e classificou a atitude do policial como “legítima defesa imaginária”.
“O policial estava em estacionamento próximo à pizzaria quando viu dois homens chegar em atitude suspeita e ficou de olho nessas duas pessoas. Instantes depois, chegou um carro e essas duas pessoas foram até o veículo, cada uma por um lado. O policial chegou a ver uma das pessoas do carro entregando um material às que estavam de fora e aí ele resolve agir por impulso. Dá voz de prisão e manda parar, mas as pessoas que estavam ali sem cometer nenhum tipo de crime continuaram agindo porque não entendiam sequer que aquela voz era uma voz de parada para eles. Aí o policial resolve disparar um tiro de comprometimento, que não é tiro pra matar, mas para impedir uma situação suspeita. Ele agiu naquilo que a gente chama de legítima defesa putativa, uma legítima defesa imaginária”, acrescentou Luiz Pereira.
O comandante do Batalhão de Choque da Polícia Militar, capitão Guilherme Herculano, afirmou que ainda não é possível afirmar se o procedimento realizado pelo soldado Vieira, foi precipitado. Segundo o comandante, o caso deverá ser apurado e investigado pela Polícia Civil.
O comandante ainda informou que o soldado está afastado das atividades e deve passar por tratamento psicológico. O delegado responsável pelo caso, Paulo Josafá, confirmou que o suspeito deve responder por homicídio qualificado.
A Polícia Civil investiga se câmeras de segurança gravaram o momento em que o soldado Vieira atirou contra Fausto e o motorista do alternativo. Conforme o advogado Paulo Josafá, existe a suspeita de que o gerente do estabelecimento tenha mentido sobre a inexistência do material.
“O gerente da pizzaria disse que não tinha, mas ontem [quarta-feira] foi relatado por funcionários que as câmeras estavam gravando sim, que as imagens estavam boas. Então, se o gerente escondeu essas informações, ele irá responder judicialmente por tentativa de obstrução ao esclarecimento do crime”, informou Paulo Josafá.
Ao Portal Correio, o advogado da pizzaria, Thiago Melo, disse que houve um desencontro na comunicação e assegurou que não existe tentativa de obstrução de informação. “O que acontece é que o HD onde são armazenadas as imagens não estava conectado ao monitor e, por isso, elas não podiam ser exibidas naquele momento. Mas todo material já foi entregue à polícia e estamos disponíveis para colaborar com as investigações”, garantiu Thiago.