Ao contrário do que muitos pensam, não se aprende Português decorando regras. A regra é o ponto de partida, mas não é o fundamento da língua. Aliás, não se deve esquecer que a língua não é só gramática; existem outros elementos fundamentais; sobretudo, a semântica.
Para exemplificar o que estamos afirmando, observemos o seguinte exemplo:
O pai doou um rim ao filho.
Na frase citada, temos o verbo doar como transitivo direto e indireto.
Já na frase: “Operário doa rim, em São Paulo”, o mesmo verbo é já transitivo direto, sendo São Paulo (expressão de lugar) adjunto adverbial.
Outro exemplo:
A turma da “decoreba” elegeu como verbos de ligação: ser, estar, parecer…
Pura bobagem.
Observe:
O homem está triste (o verbo da frase é de ligação).
O homem está na praia (o verbo da frase é intransitivo, sendo “na praia” adjunto adverbial de lugar).
Outra perda de tempo é querer aprender ortografia a partir de regras; ortografia se aprende lendo, escrevendo e consultando dicionários.
Vamos a dois exemplos que reforçam nosso argumento:
A “regra” diz que palavras derivadas de outras cujo radical termine em S escrevem-se, também, com S.
Será?
Catequese tem radical com S, e catequizar se escreve com Z.
Outro elemento da língua para o qual a regra não é infalível é a pontuação. Os sinais de pontuação (sobretudo vírgula e ponto-e-vírgula) não são apenas gramaticais, mas principalmente sinais de harmonia, em que a semântica é fundamental.
Observe o leitor este exemplo, extraído de jornal: “Segundo diretora Ana Helena, no ano de 2003, o clube registrou seu nome na história (…)”.
As vírgulas isolando o adjunto adverbial “no ano de 2003” estão gramaticalmente corretas, já que a gramática normativa diz que os adjuntos adverbiais deslocados devem ser isolados por vírgula.
Só que, no caso, dever-se-ia sacrificar a gramática, tirando-se a segunda vírgula (após 2003), para se obter a clareza do texto.
Embora escrito, do ponto de vista gramatical, corretamente, o texto está dando uma ideia diferente da que o redator quis.
O que o redator quis dizer é que o clube registrou seu nome na história, no ano de 2003, segundo a diretora Ana Helena.
Da maneira como foi redigido, o texto está, graças às vírgulas (“exigidas pela gramática), dizendo que Ana Helena foi diretora do clube apenas em 2003.
Não se aprende Português decorando regras; e saber regras de cor não é saber Português.