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‘Regras e Língua Portuguesa’ é o título da nova coluna de João Trindade

Ao contrário do que muitos pensam, não se aprende Português decorando regras. A regra é o ponto de partida, mas não é o fundamento da língua. Aliás, não se deve esquecer que a língua não é só gramática; existem outros elementos fundamentais; sobretudo, a semântica.

Para exemplificar o que estamos afirmando, observemos o seguinte exemplo:

O pai doou um rim ao filho.

Na frase citada, temos o verbo doar como transitivo direto e indireto.

Já na frase: “Operário doa rim, em São Paulo”, o mesmo verbo é já transitivo direto, sendo São Paulo (expressão de lugar) adjunto adverbial.

Outro exemplo:

A turma da “decoreba” elegeu como verbos de ligação: ser, estar, parecer…

Pura bobagem.

Observe:

O homem está triste (o verbo da frase é de ligação).

O homem está na praia (o verbo da frase é intransitivo, sendo “na praia” adjunto adverbial de lugar).

Outra perda de tempo é querer aprender ortografia a partir de regras; ortografia se aprende lendo, escrevendo e consultando dicionários.

Vamos a dois exemplos que reforçam nosso argumento:

A “regra” diz que palavras derivadas de outras cujo radical termine em S escrevem-se, também, com S.

Será?

Catequese tem radical com S, e catequizar se escreve com Z.

Outro elemento da língua para o qual a regra não é infalível é a pontuação. Os sinais de pontuação (sobretudo vírgula e ponto-e-vírgula) não são apenas gramaticais, mas principalmente sinais de harmonia, em que a semântica é fundamental.

Observe o leitor este exemplo, extraído de jornal: “Segundo diretora Ana Helena, no ano de 2003, o clube registrou seu nome na história (…)”.

As vírgulas isolando o adjunto adverbial “no ano de 2003” estão gramaticalmente corretas, já que a gramática normativa diz que os adjuntos adverbiais deslocados devem ser isolados por vírgula.

Só que, no caso, dever-se-ia sacrificar a gramática, tirando-se a segunda vírgula (após 2003), para se obter a clareza do texto.

Embora escrito, do ponto de vista gramatical, corretamente, o texto está dando uma ideia diferente da que o redator quis.

O que o redator quis dizer é que o clube registrou seu nome na história, no ano de 2003, segundo a diretora Ana Helena.

Da maneira como foi redigido, o texto está, graças às vírgulas (“exigidas pela gramática), dizendo que Ana Helena foi diretora do clube apenas em 2003.

Não se aprende Português decorando regras; e saber regras de cor não é saber Português.

 

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