O ex-governador da Paraíba, Ricardo Coutinho (PSB), rebateu, em entrevista ao site UOL, as acusações do Ministério Público da Paraíba, que o apontou como chefe de uma organização criminosa responsável por desviar mais de R$ 134 milhões dos cofres públicos. Esta foi a primeira entrevista de Ricardo Coutinho após ser solto.
Ricardo classificou como “absurda” a suspeita e disse que o Ministério Público “arrumou” uma delação para acusá-lo. “Mas delação não é prova”, destacou, alegando que seu patrimônio é compatível com o que ganhou ao longo de 28 anos em exercício de cargos políticos. “A casa que eu tenho foi declarada em valor integral. Meu carro é de 2007! Estou sendo vítima de perseguição política”, disse o ex-governador.
Para Ricardo Coutinho, atual presidente do PSB na Paraíba, a suposta perseguição se estende a outros membros do partidos. “Essa construção de narrativas não visa somente me atacar. Existe um claro mapeamento sobre o partido e sobre o nosso grupo de militantes”, disse, e deu como exemplo a prisão da prefeita de Conde, Márcia Lucena, chamando-a de “violenta”. “Não é simplesmente algo contra o Ricardo. É contra um projeto que mudou a correlação de forças na Paraíba, gerando atritos com instituições”, completou.
O ex-governador também negou ter recebido propinas de R$ 500 mil mensalmente e falou que os diálogos apresentados na denúncia estão “descontextualizados”, “truncados” e “provavelmente editados”.
Ainda na entrevista, Ricardo Coutinho falou sobre o cenário político atual e disse que o Brasil “perdeu uma estrada da civilidade democrática desde 2013”. Na avaliação do ex-governador, desde então o país lida com desorganização da economia e criminalização da política, resultando em “um país destruído, com as pessoas sentindo apenas ódio”. “Esse período é pior do que a ditadura. Lá, você sabia o que estava acontecendo. Agora, tem capa de democracia que cada vez nega mais direitos”, analisou.
Questionado sobre possíveis semelhanças entre as operações Calvário e Lava Jato, Ricardo Coutinho disse ao UOL que as duas “fazem parte de um mesmo contexto”. Ele defendeu que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi condenado “por uma propriedade que efetivamente não tinha”. “O que está acontecendo aqui é um retrato do Brasil”, cravou.
Ricardo Coutinho foi alvo da sétima fase da Operação Calvário, batizada como Juízo Final, na última terça-feira (17). Ele teve prisão preventiva decretada pelo desembargador Ricardo Vital. A ordem judicial foi cumprida na quinta-feira (19), quando o ex-governador desembarcou em Natal, Rio Grande do Norte, de uma viagem de férias à Turquia. A prisão de Ricardo foi mantida em audiência de custódia realizada no dia seguinte, mas o ministro Napoleão Nunes, do Superior Tribunal de Justiça (STJ), mandou soltá-lo no sábado (21).
De acordo com o Ministério Público da Paraíba (MPPB), Ricardo Coutinho era líder do núcleo político da organização criminosa investigada na Operação Calvário. Ele é apontado como responsável direto pela tomada de decisões e pelos métodos de arrecadação de propina, bem como sua divisão e aplicação.
Ainda conforme o MPPB, Ricardo Coutinho, quando chefe do Executivo Estadual, exercia domínio sobre os demais Poderes. O Tribunal de Contas do Estado da Paraíba (TCE-PB) é suspeito de encobrir, ou até mesmo potencializar, as práticas criminosas investigadas na Operação Calvário. Dois conselheiros do TCE-PB foram suspensos de suas funções por 120 dias.