Não faltam questões sobre o futuro das cidades após a primeira grande pandemia do século XXI. Afinal, ela provoca uma mudança brusca em como seus habitantes as ocupam. Sair é sinônimo de exposição ao risco, é necessário ficar em casa, para se manter seguro. Mas, qual a relação entre pandemias e cidades?
Ao longo do tempo e desde o seu nascimento, elas intensificaram a aglomeração das pessoas. A alta densidade demográfica aponta isso, exigida pela mudança nas relações de trabalho. É o que defendem a Profa. Ma. Deborah Kishimoto e o Prof. Me. Sebastião Amaral, coordenadora e coordenador adjunto de Arquitetura e Urbanismo do Unipê.
“Desde a criação espontânea das cidades e o início de seu planejamento com a criação do termo Urbanismo, houve grandes reflexões, muitas delas motivadas por questões insalubres que se tornaram muito evidentes justamente com o aparecimento das epidemias que chegaram a dizimar populações”, explicam.
A falta de saneamento básico e fazer a divisão entre calçadas e ruas são exemplos de insalubridade que propicia a disseminação de doenças. Assim, bairros não planejados tendem a sofrer ainda mais, seja pela falta de infraestrutura básica ou condições que promovam qualidade de vida urbana, “onde as relações com seu bairro tragam um bem-estar coletivo e uma relação de pertencimento”, contam.
Por outro lado, os bairros planejados que levam em conta o cuidado sanitário tendem a sofrer menos. Em João Pessoa, os bairros Castelo Branco e Estados “são planejados com fortes características higienistas, ruas com calhas nos meios-fios, implantação das vias inclinadas em direção aos rios e excelente distribuição de infraestrutura sanitária como água e esgoto.”
Para os arquitetos, as relações de trabalho, pessoais, com a saúde coletiva e pessoal não serão as mesmas após a Covid-19, e as cidades serão reflexos disso. A aglomeração demandada por elas requer a criação de espaços públicos e comunitários de lazer para encontros, como parques, que dão “respiro e alívio” às cidades, tendo relação direta com a saúde mental e afetiva das pessoas.
Mas, o uso dos espaços públicos é desaconselhado em uma pandemia como a de agora, sendo vistos como promotores do contágio. “O modelo de cidade como um todo precisa ser revisto antecipando possibilidade de situações similares as que vivemos hoje”, dizem. Até o atual uso de casas será repensado, impactando diretamente nas novas cidades. “O espaço em casa terá ainda a visão da possibilidade de uso como home office de fato, se cercando de todas necessidades que essa modalidade requer”, pontuam.