Foi sepultado na tarde desta quinta-feira (13), em João Pessoa, Fausto Targino de Moura Júnior, de 25 anos, assassinado por um policial militar na noite dessa quarta-feira (12), em frente a uma pizzaria no bairro Jardim Oceania, na Zona Leste de João Pessoa, ocorrência que deixou outro jovem gravemente ferido. Testemunhas do fato relataram que o PM teria agido desde um primeiro momento já com disparos de arma de fogo, versão negada pela defesa dele. Diante disso, para comentar esse tipo de situação, a redação do Portal Correio entrou em contato com o policial federal aposentado, advogado, psicólogo e especialista em Criminologia e Psicologia Criminal Deusimar Guedes.
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“O que se pode dizer com certeza é que não há dúvida de que houve precipitação, sobretudo de alguém que tem treinamento, que tem que ter cautela. Acredito que um caso assim possa ter sido motivado pelo momento de insegurança pelo qual passa a sociedade. Tão importante quanto a segurança é a sensação de segurança, o que não sentimos atualmente. A violência que tomou conta do país deixa a sociedade inteira sobressaltada. Policiais não são diferentes, até porque eles convivem com essas situações em suas rotinas. Mas a precaução deles tem que ser mais destacada”, comentou o especialista.
Segundo Deusimar, o treinamento dos agentes de segurança pública já prepara o profissional para acontecimentos deste tipo, com protocolos que devem ser observados e obedecidos para que o trabalho seja feito corretamente.
“Em um caso desses, ele poderia até sacar a arma, mas disparar já foge dos protocolos policiais. Os suspeitos teriam que ter sacado arma, tentado alguma reação, demonstrado alguma atitude hostil. Teria que haver alguma ação concreta de violência”, explicou Deusimar.
De acordo com o especialista, há comandos básicos que o policial deve executar na abordagem de suspeitos.
“A primeira coisa é não deixar dúvida de que ele é policial. Em alto e bom tom, de forma clara, deve se apresentar como tal. Em seguida, deve proceder com os comandos (ordenar que os suspeitos deitem no chão, ponham as mãos na cabeça, etc)”, detalhou.
Conforme indicou ao Portal Correio, a ação em frente à pizzaria não obedeceu aos protocolos fundamentais citados.
“O policial, como qualquer ser humano, tem falhas, medos. É evidente que ele deve ter tido alguma justificativa para agir como agiu. Acredito que, mesmo podendo haver atenuantes, ele não ficará livre de punibilidade”, destacou.
Fausto Targino de Moura Júnior chegou à pizzaria em uma motocicleta, acompanhado por um colega, ao mesmo tempo em que outros conhecidos chegavam em um carro conduzido por um motorista de aplicativo. Após estacionar a moto, Fausto e o colega caminharam em direção ao grupo que estava no automóvel. Neste momento, um suposto vigilante da pizzaria – que depois revelou-se ser o PM investigado, conhecido como soldado Vieira – abriu fogo.
Os tiros atingiram Fausto e o motorista de aplicativo. Os dois foram socorridos para o Hospital de Emergência e Trauma Senador Humberto Lucena. Fausto morreu após chegar à unidade de saúde. Já o outro baleado, um jovem de 22 anos, seguia internado até a manhã desta quinta-feira. Conforme boletim médico, o estado dele é grave.
A defesa do soldado Vieira negou que o policial estivesse prestando serviço de segurança na pizzaria no momento do crime. O policial já se apresentou à Polícia Civil para prestar esclarecimentos e foi liberado. O advogado dele alegou que antes de atirar nas vítimas, o soldado teria dado voz de prisão às pessoas que considerou suspeitas. A defesa lamentou a perda de uma vida inocente e classificou a atitude do policial como “legítima defesa imaginária”.
“O policial estava em estacionamento próximo à pizzaria quando viu dois homens chegarem em atitude suspeita e ficou de olho nessas duas pessoas. Instantes depois, chegou um carro e essas duas pessoas foram até o veículo, cada uma por um lado. O policial chegou a ver uma das pessoas do carro entregando um material às que estavam de fora e aí ele resolveu agir por impulso. Deu voz de prisão e mandou parar, mas as pessoas que estavam ali sem cometer nenhum tipo de crime continuaram agindo porque não entendiam sequer que aquela voz era uma voz de parada para eles. Aí o policial resolveu disparar um tiro de comprometimento, que não é tiro para matar, mas para impedir uma situação suspeita. Ele agiu naquilo que a gente chama de legítima defesa putativa, uma legítima defesa imaginária”, apontou a defesa.