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Retrospectiva 2021: casos policiais que chocaram e comoveram a Paraíba

No segundo ano da pandemia, em meio a altos números de mortes e expectativa por vacinas, muitas vezes foram os casos policiais que chamaram a atenção

Assassinatos de crianças, crimes passionais e de trânsito, prisão de artista por violência contra a mulher. No segundo ano da pandemia, em meio a altos números de mortes e expectativa por vacinas, muitas vezes foram os casos policiais que tomaram espaço nos noticiários paraibanos. Episódios de violência chocaram, indignaram e comoveram o estado em 2021. O Portal Correio relembra, nesta publicação, alguns dos assuntos mais comentados no ano.

Caso Gefferson de Moura

16 de março. O empresário Gefferson de Moura Gomes, de 32 anos, foi assassinado a tiros durante uma operação desastrosa das polícias Civil e Militar de Sergipe na cidade de Santa Luzia, Sertão paraibano. 

Gefferson de Moura viajava para Cajazeiras, onde iria cuidar do pai, que estava com Covid-19, e foi confundido com o suspeito que a polícia procurava. Os agentes de segurança envolvidos no crime alegaram que Gefferson estaria armado e teria reagido à abordagem, dando início a um tiroteio, mas a versão não se confirmou. 

As investigações apontaram que o alvo da operação, Luiz Henrique Cunha Carvalho, tinha “desavenças” com um dos policiais que participaram da execução do empresário paraibano. O corpo de Gefferson de Moura foi deixado pelos policiais em uma maca do lado de fora de um hospital em Santa Luzia. Em seguida, eles se apresentaram na delegacia da região e entregaram as armas.

Gefferson de Moura tinha 32 anos — Foto: Reprodução/Arquivo Pessoal

No dia 20 de abril, o delegado Osvaldo Resende Neto, o agente da Polícia Civil José Alonso de Santana e o policial militar Gilvan Morais de Oliveira tornaram-se réus no processo. 

Para o Ministério Público da Paraíba, os réus agiram por motivo torpe, utilizando-se de meio cruel e sem dar chance de defesa a Gefferson de Moura. A denúncia ainda aponta que houve intenção de matar por parte dos policiais.

Conforme os autos do processo, o empresário foi abordado inicialmente pelo agente da Polícia Civil e pelo policial militar, que o confundiram com o alvo que procuravam, em função de algumas semelhanças físicas.

“Os dois policiais chamaram o delegado Osvaldo Neto, que posicionou-se ao lado da porta do condutor do veículo e, à queima-roupa, sem permitir qualquer possibilidade de defesa por parte da vítima, efetuou oito disparos de arma de fogo”, destacou o Ministério Público, que complementou: “Os elementos colhidos nos autos apontam que os denunciados se encontravam com o dolo específico de assassinar o alvo que procuravam. A intenção não era a de cumprir o mandado de prisão em aberto, mas executar o foragido”.

As investigações mostraram também que Osvaldo Resende Neto, José Alonso de Santana e Gilvan Morais de Oliveira tentaram ‘incriminar a vítima’, apresentando à delegacia uma pistola sob alegação de que a arma estava em posse de Gefferson de Moura, mas mais tarde foi constatado que o instrumento, na realidade, era registrado no nome de um policial sergipano. 

“O ato bárbaro foi provocado por motivo torpe consubstanciado em desavenças pretéritas existentes entre o denunciado Osvaldo e o verdadeiro alvo da operação”, cravou a denúncia.

Os acusados chegaram a ser presos, mas ganharam liberdade em novembro, após decisões do Superior Tribunal de Justiça (STJ). O primeiro a deixar a cadeia foi o delegado Osvaldo Resende Neto, no dia 23. Já José Alonso Santana e Gilvan Moraes de Oliveira tiveram seus pedidos de habeas corpus aceitos pela corte no dia 26.

Caso Patrícia Roberta

27 de abril. O corpo de Patrícia Roberta, de 22 anos, foi encontrado em um matagal no bairro de Gramame, em João Pessoa. A jovem, natural de Caruaru, Pernambuco, tinha vindo à capital paraibana para encontrar um amigo, Jonathan Henrique Conceição dos Santos, acusado do crime. 

Patrícia Roberta chegou em João Pessoa em 23 de abril. No dia 24, por chamada de vídeo, ela contou à mãe que Jonathan havia saído e a deixado trancada no apartamento dele, onde ela estava hospedada. A mãe da jovem diz ter percebido que Patrícia estava triste e abatida. À noite, enviou mensagem para a filha e Patrícia informou que Jonathan ainda não tinha chegado ou dado notícias.

No dia 25 de abril, às 11h46, Patrícia Roberta avisou à mãe que Jonathan já estava no apartamento. Às 12h06, a jovem disse que o amigo iria acompanhá-la na viagem de volta para Pernambuco e já havia comprado as passagens. Esse foi o último contato dela com a família.

Patrícia Roberta tinha 22 anos — Foto: Reprodução/Arquivo Pessoal

Preocupados, os pais da jovem vieram até João Pessoa no dia 26 de abril para procurá-la e acionar a polícia. As buscas oficiais começaram no dia seguinte. 

Durante as investigações, a polícia teve acesso a imagens de câmeras de segurança que mostravam o suspeito carregando um carrinho de mão com um tambor de lixo. Um tempo depois, ele volta a aparecer na gravação, desta vez em uma moto e com algo semelhante a um corpo.

O corpo de Patrícia Roberta foi encontrado justamente dentro de um tambor de lixo. Os pés da jovem estavam amarrados e o corpo envolto em lençol e plástico. Jonathan Henrique foi localizado e preso na noite do dia 27 de abril. No apartamento dele, a polícia encontrou uma lista com nomes de mulheres, um altar com livros de magia e indícios de acesso à ‘deep web’, área ‘escondida’ da internet que tem pouca regulamentação e é comumente utilizada para atividades ilícitas, como compartilhamentos de conteúdos ilegais e comercialização de armas e drogas.

A perícia concluiu que Patrícia Roberta foi morta por asfixia. 

Caso Gael

10 de maio. O menino Gael Freitas Nunes de Farias, de 3 anos, foi achado morto em um apartamento no bairro da Bela Vista, área nobre de São Paulo (SP). A mãe dele, a paraibana Andréia Freitas de Oliveira, de 37 anos, foi presa suspeita de agredir, asfixiar e matar a criança. 

O corpo de Gael apresentava vários ferimentos, incluindo hematomas no rosto e na cabeça, e foi encontrado pela irmã dele, uma adolescente de 13 anos. Foi ela quem acionou a polícia.

A perícia inicial achou marcas de um anel usado por Andréia Freitas de Oliveira no corpo de Gael. A mulher foi detida na cozinha do apartamento, em estado de choque, e precisou de atendimento psiquiátrico antes de ser levada para uma delegacia. 

Menino Gael tinha apenas 3 anos — Foto: Reprodução/Arquivo Pessoal

No depoimento, ela apresentou confusão nas declarações e silenciou sobre a morte do filho. De acordo com o advogado de defesa, Andréia relatou um lapso de memória dos acontecimentos entre a noite de 9 de maio e a tarde do dia 10. 

A defesa também alega que a mãe de Gael sofria de traumas por um relacionamento abusivo no passado, que teria afetado tanto sua vida pessoal quanto a profissional. Segundo uma tia-avó de Gael, Andréia possui histórico de transtorno mental e já havia sido internada quatro vezes. 

O corpo de Gael foi velado e enterrado no dia 13 de maio, no município de Prata, interior da Paraíba. Após orações na casa da avó paterna, o caixão foi colocado em uma tenda, na rua, para que outras pessoas pudessem se despedir da criança. Agentes da Vigilância Sanitária ajudaram a organizar a fila de moradores, com controle de acesso, para evitar aglomerações. Em seguida, houve cortejo até o Cemitério Jardim Saudade, onde Gael foi enterrado. 

Em 21 de maio, a Justiça de São Paulo recebeu denúncia do Ministério Público contra Andréia e solicitou exame de sanidade mental para a mulher, tornando-a ré em processo por homicídio doloso qualificado por meio cruel, sem prestar socorro imediato e contra descendente.

Caso João Victor

6 de junho. João Victor de Almeida Barbosa, de 22 anos, foi assassinado com mais de 20 facadas em um apartamento no Centro de Campina Grande. 

Vizinhos da vítima teriam escutado gritos e, em seguida, um forte barulho de porta se fechando, indicando que alguém teria deixado o apartamento. Eles foram até o apartamento e acionaram o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), que constatou a morte de João Victor.

Desde o princípio, a polícia apontou o namorado da vítima, Joan Edgley Costa Norberto, de 28 anos, como o autor do crime. Ele se entregou à polícia no dia 14 de junho. 

João Victor, de azul, e o namorado, Joan Edgley — Foto: Reprodução/Arquivo Pessoal

No depoimento, Joan disse que cometeu o crime após ser ‘humilhado’ pela vítima em uma discussão. A briga teria ocorrido após Joan descobrir que havia sido traído por João Victor. 

O suspeito não lembrava quais palavras supostamente ditas pela vítima o fizeram se sentir humilhado. Após o crime, Joan Edgley tomou banho e fugiu. Ele teria ficado escondido em um matagal no município de Pocinhos até o dia em que se entregou à polícia.

Joan Edgley afirmou que se arrependia do crime e que essa foi a primeira vez que um relacionamento seu acabou de forma violenta. Ele foi preso e indiciado por homicídio qualificado.

Caso Gabriel Ramos

29 de junho. O menino Gabriel Ramos de França, de apenas dois anos, morreu, no bairro Pedregal, em Campina Grande, após ser espancado pela mãe e pelo padrasto. 

O caso veio à tona na manhã do dia 30, quando a mulher levou a criança ao Hospital de Emergência e Trauma, afirmando que o filho estava ‘sonolento’. Os médicos constataram que Gabriel estava sem sinais vitais e perceberam hematomas no corpo da criança. A polícia foi acionada e a mãe detida no próprio hospital. O companheiro dela, que a acompanhava no hospital, fugiu antes da chegada da polícia.

À Polícia Civil, a mulher falou que o responsável pelas agressões ao menino Gabriel seria o seu companheiro, mas o depoimento precisou ser interrompido porque a suspeita estava sob efeito de entorpecentes. O companheiro dela foi localizado e preso na tarde do mesmo dia. O homem, de 27 anos, já tinha passagem pela polícia.

Menino Gabriel tinha apenas 2 anos — Foto: Reprodução/Arquivo Pessoal

Apesar de a mãe atribuir a culpa do assassinato somente ao padrasto da criança, as investigações concluíram que as sessões de violência contra Gabriel eram praticadas pelo casal. Laudo pericial apontou que alguns órgãos do menino se romperam devido às agressões. Para a polícia, a mãe de Gabriel já sabia que o menino estava morto há algumas horas quando o levou para o hospital. 

Outra criança filha da suspeita, uma menina de quatro anos, foi submetida a exames e ficou constatado que ela também era espancada. 

O pai de Gabriel, um homem de 55 anos, disse à TV Correio que a ex-companheira não aparentava ser violenta enquanto vivia com ele. Os dois se separaram após ela conhecer o novo companheiro pelas redes sociais, cerca de 30 dias antes da morte do menino.

O casal foi indiciado por homicídio duplamente qualificado e pelas agressões contra a menina de quatro anos.

Caso Marvin Henriques

14 de julho. A juíza Aylzia Fabiana Borges Carrilho, do Segundo Tribunal do Júri da Capital, absolveu Marvin Henriques Correia, acusado de ter participado do assassinato de uma família brasileira em Pioz, na Espanha, em 2016. 

Marvin é amigo de François Patrick Nogueira Gouveia, assassino dos tios, Marcos Campos e Janaína Américo, e dos primos, uma menina de quatro anos e um menino de 1 ano. O inquérito do caso provou que Patrick conversou com Marvin pelo WhatsApp enquanto cometia os crimes. Mensagens divulgadas pela polícia na época mostravam que Marvin reagiu com frieza aos atos violentos, manifestou interesse na forma como Patrick tinha agido e deu ‘dicas’ ao amigo. 

Em um dos trechos da conversa, ele disse: “Cuidado para não desmaiar de fome e não conseguir finalizar a vítima”, em referência a Marcos, o último a ser morto por Patrick. Em outro ponto da conversa, quando Patrick contava detalhes de como matou e esquartejou a tia e os primos, Marvin comentou: “Queria imaginar a cena. Você chegando para matar”, seguido de uma risada. 

Marvin Henriques, à esquerda, posa em foto com o autor da chacina na Espanha, Patrick Nogueira — Foto: Reprodução/Arquivo Pessoal

Marvin Henriques também alertou Patrick sobre a possibilidade de haver câmeras de segurança nas imediações da casa onde o crime aconteceu. Para a polícia, Marvin havia sido cúmplice da chacina. Ele chegou a ser preso em outubro de 2016 e foi solto cerca de um mês depois, sob medidas cautelares. Em junho de 2019, uma nova decisão judicial determinou que Marvin voltasse à prisão, o que só foi revogado em maio de 2020, quando o investigado recebeu a liberdade condicional.

No julgamento do processo, cinco anos depois da chacina, a Justiça entendeu que Marvin de fato instigou o crime, mas não poderia ser condenado porque essa conduta não está tipificada no Código Penal Brasileiro. Com a absolvição, todas as medidas cautelares existentes contra Marvin foram revogadas.

“Em que pese a conduta do indigitado ter sido abjeta, repugnante, amoral, sórdida, fria, vil, dentre outros adjetivos negativos, ela não pode ser considerada criminosa, simplesmente, porque não foi descrita na lei penal como tal. Percebe-se que há um vácuo legal, o qual não pode ser suprido pelo Poder Judiciário. É importante destacar que a função do Poder Judiciário é fazer justiça, mas não a qualquer custo. Ao poder discricionário de julgar de um magistrado cabe os limites do nosso ordenamento jurídico”, disse a juíza Aylzia Fabiana Borges Carrilho.

Caso Ivis

14 de julho. O cantor e compositor paraibano Iverson de Souza Araújo, conhecido como DJ Ivis, foi preso em Fortaleza, Ceará, após a divulgação de vídeos em que ele aparece agredindo a ex-esposa, Pamella Holanda, na frente da filha, da sogra e de um amigo.

Natural de Santa, DJ Ivis ficou conhecido nacionalmente por compor e produzir diversos hits de forró, como ‘Esquema Preferido’, ‘Basta Você Me Ligar’, ‘Cidade Inteira’ e ‘Já Te Esqueci’.

Os registros das agressões cometidas por DJ Ivis foram divulgados no dia 11 de julho nas redes sociais de Pamella Holanda. As imagens repercutiram e revoltaram internautas, que pressionaram o poder público a tomar providências no caso. A produtora Vybbe, que administrava a carreira de DJ Ivis, anunciou, no mesmo dia, a demissão do artista.

Pamella instalou câmeras em casa para registrar agressões de Ivis — Foto: Reprodução

Em 12 de julho, o prefeito de Fortaleza, Sarto Nogueira, disse, no Twitter, que a “violência contra a mulher é inadmissível e se torna ainda mais cruel e repugnante na presença de filhos”. Ele também falou que determinou à Secretaria de Direitos Humanos e Desenvolvimento Social que acompanhasse o caso e oferecesse assistência à Pamella e ao bebê.

Dois dias depois, a polícia pediu e a Justiça decretou a prisão do artista. O governador do Ceará, Camilo Santana, usou as redes sociais para comunicar sobre a prisão de DJ Ivis. “Que responda pelo crime cometido”, escreveu. 

Ivis pediu na Justiça que o conteúdo em que ele aparece agredindo a ex-esposa fosse removido da internet, mas a juíza Maria José Sousa Rosado de Alencar, da Comarca de Fortaleza, negou o pedido. Ele ainda solicitou que Pamella fosse proibida de comentar sobre o assunto com a imprensa, o que também foi negado.

Após três meses preso, o cantor foi solto em 22 de outubro, por determinação da Vara Única da Comarca de Eusébio, no Ceará. A liberdade de DJ Ivis só foi concedida após o sétimo pedido de habeas corpus apresentado pela defesa. O último pedido negado foi do ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), em 31 de agosto. 

Desde que a liberdade foi concedida ao artista, ele tem tentado voltar com a carreira artística, mas sua imagem segue bastante manchada perante o público. No dia 4 de dezembro, o cantor foi vaiado ao subir ao palco de uma casa noturna em São Bernardo do Campo, São Paulo, a convite de Tarcísio do Acordeon. Além disso, o cantor Jonas Esticado foi alvo de críticas negativas ao lançar uma música composta por Ivis no fim de outubro. 

Caso Antônia Fontenelle

15 de julho. A Polícia Civil da Paraíba instaurou um inquérito contra a atriz e youtuber Antônia Fontenelle pelo crime de racismo. Ela fez declarações preconceituosas nas redes sociais ao comentar as agressões cometidas pelo DJ Ivis contra a ex-esposa. 

“Esses paraíbas fazem um pouquinho de sucesso e acham que podem tudo”, disse Antônia Fontenelle. A fala foi considerada um ataque generalizado a todos os paraibanos pelo delegado Pedro Ivo, da 1ª Delegacia Seccional da Polícia Civil. 

Antônia Fontenelle desagradou também os internautas, sobretudo nordestinos, que se sentiram ofendidos pela youtuber. Após as críticas, ela publicou outra mensagem para justificar sua primeira fala, mas acabou piorando a situação. 

Antonia Fontenelle usou termo preconceituoso ao comentar caso Ivis — Foto: Divulgação

“Paraíba eu me refiro a quem faz paraibada. Pode ser ele sulista, pode ser ele nordestino, pode ser ele o que for. Se fizer paraibada… é uma força de expressão”, falou, aparentemente sem se dar conta que o termo “paraibada” tem origem justamente no uso pejorativo da palavra Paraíba.

O caso passou a ser apurado e, em 22 de setembro, a Polícia Civil decidiu indiciar Antônia Fontenelle. Para as autoridades, a conduta da youtuber está tipificada no artigo 20 da Lei nº 7716/1989, que criminaliza a prática, indução ou incitação à discriminação ou ao preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional. Em caso de condenação, a pena prevista em lei é de reclusão de um a três anos e multa.

A assessoria de Antônia Fontenelle não respondeu às mensagens do Portal Correio sobre o processo.

Caso Anielle Teixeira

8 de setembro. O corpo da menina Anielle Teixeira, que estava desaparecida desde a madrugada do dia 5, foi encontrado em uma mata às margens do Rio Jaguaribe, no bairro Miramar. O corpo de Anielle estava sem a parte de baixo das roupas, o que levantou a suspeita de violência sexual. A análise preliminar do cadáver também apontou indícios de esganadura.

Anielle Teixeira, de 11 anos, sumiu de um quiosque na Praia do Cabo Branco, em João Pessoa, onde passou a noite com a mãe e a irmã mais nova. Câmeras de segurança registraram um homem conversando com a criança às 4h37. Depois disso, ela não foi mais vista. 

O suspeito foi identificado como José Alex da Silva, de 35 anos. Ele foi localizado e preso na tarde do dia 8 de setembro, na cidade de Ferreiros, Pernambuco, horas após a polícia encontrar o corpo. Em depoimento à Polícia Civil da Paraíba, ele confessou ter matado a menina, mas negou o estupro. Ele não explicou, no entanto, por que o corpo da menina estava sem parte das vestimentas.

Anielle Teixeira tinha 11 anos — Foto: Reprodução/Arquivo Pessoal

José Alex da Silva alegou que estava sob efeito de drogas no momento do crime. Ele disse que ficou com raiva de Anielle depois que ela saiu em sua bicicleta sem pedir permissão. Ao encontrá-la, teria se descontrolado e levado a menina para o matagal. Lá, teria estrangulado a criança.

A versão de José Alex não convenceu a Polícia Civil. A forma como corpo foi encontrado sugeria que Anielle Teixeira havia sido vítima de violência sexual, logo, para os investigadores, teria sido essa a intenção de José Alex ao levar a criança para o matagal.

Um dia após confessar o crime, o suspeito mudou sua versão sobre o caso. Durante audiência de custódia, ele disse que foi agredido por policiais militares de Pernambuco. Segundo o advogado de defesa, Daniel Alisson, a confissão de José Alex à Polícia Civil ocorreu sob tortura. Em nota à produção da TV Correio, a PMPE negou ter cometido qualquer tipo de violência contra o suspeito.

Mesmo com a nova versão de José Alex, a juíza Andreia Carla Mendes Nunes Galdino decidiu manter a prisão preventiva e determinou que ele fosse transferido para a Penitenciária de Segurança Máxima Doutor Romeu Gonçalves de Abrantes (PB1).

Caso Kelton Marques

11 de setembro. O motoboy Kelton Marques de Sousa, de 33 anos, foi vítima de crime de trânsito no cruzamento das avenidas Flávio Ribeiro Coutinho (Retão de Manaíra) e Miriam Barreto Rabêlo, em João Pessoa. Ele foi atingido por um carro em alta velocidade, conduzido por Ruan Ferreira de Oliveira.

Kelton seguia em velocidade normal pela Avenida Miriam Barreto Rabêlo quando foi atingido por Ruan. Ele foi arremessado a alguns metros e teve morte instantânea. Vídeo gravado de dentro do carro mostra que o automóvel trafegava a 163 km/h e ultrapassou o sinal vermelho no Retão de Manaíra. A gravação foi obtida pela família da vítima junto à polícia e cedida à imprensa.

O carro de Ruan Ferreira de Oliveira se chocou com o muro de um condomínio e ficou parcialmente danificado. Imagens registradas por câmeras de segurança da região mostram o motorista fugindo a pé, aparentemente sem ferimentos. Latas de cerveja vazias e maconha foram encontradas dentro do automóvel.

Kelton Marques deixou esposa e duas filhas — Foto: Reprodução/Arquivo Pessoal

Desde a data do crime, familiares e colegas de Kelton Marques já realizaram vários protestos na Capital para cobrar justiça. A Polícia Civil ainda tenta cumprir o mandado de prisão preventiva expedido contra Ruan Ferreira de Oliveira.

Em novembro, dois meses após a morte de Kelton Marques, o delegado responsável pelas investigações, Rodolfo Santa Cruz, disse que a demora da prisão é frustrante. 

“Não podemos deixar de externar nossa frustração por não ter tido sucesso pleno como desejávamos. O inquérito está concluído. Toda dificuldade é localizar o suspeito e dar cumprimento à ordem judicial de prisão. Isso realmente nos incomoda bastante”, admitiu.

Rodolfo Santa Cruz disse que para a Polícia Civil prender Ruan Ferreira de Oliveira “é uma questão de honra”. Ele destacou que o suspeito está no rol de criminosos foragidos da Justiça paraibana e que o encerramento do inquérito não fará com que as buscas deixem de existir.

“Não está havendo injustiça. A Justiça tem sido retardada por indisposição do autor do fato a colaborar, a se subjugar à lei brasileira. Mas o inquérito tramitou, está sendo concluído e certamente o suspeito será denunciado. Existe uma ordem judicial de prisão, Ruan é um foragido da Justiça. Uma pessoa dessa não está livre do que fez. Ele não circula pela rua livremente, não pode botar a cara na rua porque, se fizer, vai ser preso”, completou.

Ruan Ferreira de Oliveira é procurado pela morte de Kelton Marques — Foto: Reprodução/Arquivo Pessoal

Em entrevista à TV Correio, a viúva de Kelton Marques, Tatiana Andrade, sugeriu que Ruan Ferreira de Oliveira conta proteção política. Segundo ela, o acusado teria envolvimento amoroso com a filha de um ex-prefeito do Sertão e o próprio pai de Ruan também já teria se candidatado a prefeito na região.

“Nós pedimos às autoridades, à Segurança Pública e ao governador da Paraíba que deem mais atenção a esse caso porque o assassino continua foragido. Sabemos que ele está sendo protegido pelas famílias dele e da namorada. Ele tem uma cobertura muito grande do meio político. Por isso que até hoje ele não foi encontrado. Se fosse ao contrário, se Kelton tivesse cometido um crime contra Ruan, meu esposo já estaria preso. Nós somos os menos favorecidos. Eles têm dinheiro, privilégio”, desabafou.

O Portal Correio buscou contato com a defesa de Ruan Ferreira de Oliveira por várias vezes, mas nunca obteve resposta.

Quem tiver informações sobre o paradeiro do investigado pode denunciar por meio do telefone 197. A denúncia é gratuita e sigilosa.

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